3 de dezembro de 2009

OBRIGADO PELA MÚSICA

Alguns dos indicadores de saúde mental em adultos são a capacidade de trabalhar, a habilidade para relacionamentos interpessoais e o equilíbrio entre tarefas e descanso. Será que conseguimos administrar adequadamente estes fatores?

Embora a maioria de nós não tenha conhecimentos científicos de psiquiatria ou psicologia, achamos estranho ao ver um adulto que não trabalha ou é tão introvertido a ponto de não ter amigos ou namorada. Entretanto, apenas poucos de nós se incomodariam com uma pessoa extremamente dedicada ao trabalho que não dispõe de tempo para lazer ou descanso. Certamente o que muitos diríamos ao observar uma pessoa assim seria: “Ele é um trabalhador muito esforçado!”

De fato, tenho conhecimento destes indicadores de saúde mental há alguns anos. Todavia, nas últimas semanas minha vida parece se equilibrar apenas no êxito profissional, ou melhor, na corrida para atender a todos os compromissos que assumi.

Acordar cedo, poucos minutos para o café da manhã porque logo em seguida tenho trabalho, depois reunião, horário de almoço reduzido a nada mais do que quinze minutos enquanto atendo o celular. Do outro lado uma voz me recorda que não posso chegar atrasado para a reunião do grupo de pesquisa que terá início em dez minutos do outro lado da universidade... À noite, por volta das 23 horas, me sinto cansado, mas então lembro que ainda não verifiquei meus e-mails.

Felizmente, algumas vezes, meus amigos parecem adivinhar o que estou vivenciando e intuitivamente me surpreendem. Ontem a noite, por exemplo, lia com pressa as mensagens, - apesar de ser meia-noite, eu ainda tinha que concluir um trabalho - quando acessei o e-mail de Juliana que apenas dizia que eu deveria relaxar e junto com a mensagem enviou uma animação da música “Aquarela” de Toquinho.

Minha primeira reação foi pensar “Me poupe! Tenho mais o que fazer do que ficar vendo este tipo de coisa”. Entretanto, pelo fato de esta ter sido minha música preferida na infância, me dei o direito de ver a animação. Vi o vídeo em silêncio pensando no trabalho que me esperava. Em seguida, olhei para os livros ao meu redor e resolvi ver o vídeo novamente... Desta vez, afastei minha cadeira da mesa, estiquei as pernas e cantarolei baixinho: “Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo...”.

Depois de ver pela terceira vez o vídeo e já com uma sensação de relaxamento maior, decidi que simplesmente era hora de parar, descansar e dormir. Enquanto vestia meu pijama, conclui que o trabalho a ser feito teria maior qualidade se o fizesse depois de uma prazerosa noite de sono.

Hoje, ao acordar descansado, e pensar em tudo que tenho por fazer, lembrei-me de uma frase bíblica que minha avó repetia ao ver meus tios estressados pela quantidade de trabalho: “De que adianta ganhar o mundo e perder a própria vida?”.

De fato, ou reservamos tempo para nosso descanso, lazer, sono adequado ou veremos a qualidade de nosso trabalho seguir ladeira abaixo. Ou marcamos em nossas ocupadas agendas algumas horas por dia para estar com as pessoas amadas (amigos, namorada, pais, filhos...) ou começaremos a notar que nossa vida está gradualmente perdendo o colorido e a vibração necessária para seguirmos adiante. Afinal, quando foi a última vez que você parou para ouvir e cantarolar sua música preferida?

Juliana, obrigado pela música! Irei ouvi-la agora mesmo...


R. C. Amorim Neto é Mestre em Educação pela Universidade Cidade de São Paulo (2008). Especialista em Gestão Escolar (2006) e em Psicopedagogia  (2008).

Possui graduação em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2004). Tem experiência na área de Educação, Filosofia, Pastoral Juvenil e Orientação Vocacional. Atualmente continua sua formação acadêmica em Saint Marys College of California, nos Estados Unidos.

Um comentário:

  1. Concordo plenamente, com Amorim Neto.

    Devemos, reservar um tempo para nós e principalmente família e amigos,porque são com eles, que podemos contar nos momentos mais difíceis de nossas vidas.
    Marilda Barros.

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