11 de junho de 2010

A quem interessa essa alegria?

A visão rápida que temos do povo da África do Sul, nas matérias televisivas, é a de uma população pobre, mas surrealmente alegre. Cantam e dançam como se suas vidas se fossem transformar à causa de jogos de futebol. Grande coisa. Já vi em algumas coisas de jornal gente levada a morar em casas rústicas, feitas, pareceu-me, de alumínio ou coisa assim.

Foram retiradas de perto do espetáculo. Afinal, é feio mostrar a realidade da África do Sul ante tão elegante competição. O glamour da Copa não combina com a pobreza. Naquele país, como de resto em boa parte do continente que já foi chamado de Continente Negro a aids é um sério, melhor, grave, pior, gravíssimo problema de saúde pública - só para ficar nesse exemplo.

Enquanto isso, os pobres comemoram. Depois de encerrados os jogos, o que ficará para eles? Nada, ab-so-lu-ta-men-te nada. A não ser lembranças de que viram jogadores riquíssimos, que passearam sua presença por aqueles longes do mundo como uma espécie de dádiva visual.

Afinal, a quem interessa tanta alegria? A um pequeníssimo grupo, a uma elite financeira que tem no futebol uma fábrica de dinheiro. Mas é preciso passar ao povo instantes de fragor efusivo e fazê-lo acreditar-se participante. O povo não vai ao espetáculo: o povo é o espetáculo. Seus aplausos, gritos de goooool! são imprescindíveis para as fotos e para as câmeras televisivas.

Afinal, se o povo não tem pão que coma brioche. E como isso também nunca terá, que venha o circo. 

Por Emanoel Barreto

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