28 de março de 2010

ORIGEM, SUCESSO E EXPANSÃO DO AXÉ MUSIC

A cultura afro subiu ao pódio no Brasil. Campina Grande e Esperantina iniciaram as micaretas fora da Bahia.

Na época do Brasil colônia e império houve o período da escravidão, com isso uma enorme população de nativos africanos chegaram ao nosso território, especialmente em Salvador. Mesmo estudando o que a História diz não é possível imaginarmos o real sofrimento a que eram submetidos os nativos da África que viraram escravos no Brasil. O que restava aos escravos era encontrar forças em sua religião e assim alimentar a esperança de um dia poder voltar para a África, o que nunca acontecia. Morando na senzala, os escravos encontravam alegria e disposição para exercitarem a sua religião ao som dos atabaques numa verdadeira festa. Essa força interior dos escravos resistiu às limitações e ao preconceito, sendo assim a cultura dos povos negros  permaneceu e chegou nos nossos dias atuais.

Energia do carnaval


Os escravos trazidos para o Brasil pertenciam à duas atnias, sendo que a Nagô se concentrou na Bahia, enquanto que a Bantu se estabeleceu no sul do País. O sol da Bahia, praias e aos atabaques foi uma mistura homogênea que resultou numa grande festa chamada carnaval. No século XX os terreiros de Candomblé de Salvador se uniram e formaram diversos blocos para desfilarem no carnaval. Assim surgiram blocos famosos como Ilê Ayê, Filhos de Gandhi, Bloco Mel, Olodum, entre tantos outros. O carnaval de Salvador crescia a cada ano e  em meados da década de 1980 os blocos formaram também as suas bandas de música. Foi assim que apartir de 1987 o Brasil inteiro conheceu a força do carnaval da Bahia.

Trilha sonora do carnaval

A década de 1980 produziu no Brasil e no mundo inteiro uma fase única voltada para a música. Grande parte dos maiores artistas da música que temos hoje foram consagrados nesse período. Essa foi também a fase dourada da música baiana, que se tornou nacional. O termo axé music foi criado pelo jornalista Hagamenon Brito. O axé music canta em seus versos a história e sofrimento da cultura dos nativos africanos, especialmente dos que vieram para o Brasil.  Em 1986, o cantor Luiz Caldas cria o primeiro sucesso nacional da axé music, a música Fricote. No ano seguinte Sarajane estoura nacionalmente com a música A Roda. Luiz Caldas e Sarajane são considerados os precursores do axé music. Foi também nessa fase que muitas bandas surgiram, como Chiclete com Banana, sucesso inicial com Gritos de Guerra. Outros grupos como Banda Reflexu´s, Cheiro de Amor, Banda Mel e tantas outras brilharam no circuito nacional. Todas essas atrações receberam grande apoio do apresentador Chacrinha que na época tinha o seu programa na Rede Globo. A banda Cheiro de Amor se apresentou no último programa gravado por Chacrinha antes dele morrer em julho de 1988.

Em 1992, a cantora Daniela Mercury estourou no Brasil inteiro com a música O canto da cidade. A partir de 1996, o grupo Éo Tchan lidera o axé music, principalmente por conta de suas dançarinas, Carla Perez e Scheila Carvalho. Seguindo o Éo Tchan muitas outras atrações também se consagraram, como Banda Eva, Netinho, Asa de Águia, Companhia do Pagode, Terra Samba e outras. Na atualidade a liderança do axé music está por conta de Ivete Sangalo a qual iniciou carreira cantando na Banda Eva. O axé music da atualidade não tem mais a qualidade e seriedade da produção da década de 1980. Hoje se aborda mais a sensualidade exagerada.

O trio elétrico

O termo trio elétrico designa o grupo formado por três artistas que saiam nas ruas para animarem os foliões com seus instumentos modernos. Mais tarde o termo 'trio elétrico" passou para o caminhão. Conta-se que na década de 1950 os cantores Dodô e Osmar tiveram e executaram a idéia de tocarem no carnaval em cima de um caminhão Fobica, um modelo da Ford de 1929. De lá para cá o trio elétrico passou por evoluções até se transformar no que é atualmente. Alguns trios elétricos são tão sofisticados que chegam a constituir uma atração em si no carnaval. Chiclete com Banana e Ivete Sangalo têm os maiores trios elétricos da Bahia.

A micareta

A micareta éo carnaval realizado fora de época. Sabe-se que na década de 1930 a primeira micareta foi realizada no interior da Bahia. Por falta de documentos mais precisos não se sabe ao certo se a primeira micareta foi realizada em Feira de Santana ou Jacobina. A primeira micareta realizada fora da Bahia aconteceu em Campina Grande - PB, no dia 21 de abril de 1989, nasceu então a Micarande. Ao se projetar fora da Bahia, o axé music se transformou numa indústria muito lucrativa, resultando em micaretas por todo o Brasil durante o ano inteiro.

Micareta de Esperantina

Esperantina nunca teve tradição com o carnaval de época, assim a juventude local cobrava dos políticos a realização de algo mais consistente relacionado a isso. Em 1993, o prefeito José Ivaldo Franco (PSDB), importou o carnaval de Salvador para Esperantina, ou seja, nasceu assim mais uma micareta fora da Bahia. De repente Esperantina se viu completamente seduzida por uma festa que a maioria das pessoas só a conhecia pela TV.  A banda e trio Papa Léguas, muitas vezes campeã do carnaval de Salvador, esteve em Esperantina nas primeiras micaretas. Uma das maiores micaretas em Esperantina se realizou em abril de 1995, quando a cantora Sarajane foi a atração principal do evento. Sarajane cantou no trio elétrico da banda Papa Léguas. Desde 1993, quase todo ano Esperantina realiza esse carnaval fora de época. Esperantina foi a primeira cidade do Piauí a realizar uma micareta e depois disso muitas outras cidades no Estado seguiram essa tendência, como Teresina, Luís Correia, Picos, Piripiri, entre outras. Assim como Campina Grande, Esperantina também tem a forte tendência para o mundo das diversões o turismo. Muitos turistas  vindos de longe visitam Esperantina por conta dos carnavais fora de época. A  Cachoeira do Urubu também contribui para esse sucesso, pois sempre que as micaretas são realizadas suas quedas d´água se encontram em volume máximo, o que encanta os turistas.

 Muitas atrações do carnaval de Salvador já tiveram em Esperantina, como Ricardo Chaves, Netinho, Pimenta Nativa, Nairê, entre outras. Foi durante a apresentação do Netinho em 2007 que eu tive a inspiração para pintar o quadro que iliustra este artigo. O show pirotécnico iniciou quando o trio elétrico do Netinho passava na avenida Petrônio Portela, em frente à rodoviária. Eu vi as imagens que passei para essa pintura a óleo sobre tela. Tradicionalmente a micareta de Esperantina é realizada no período da Semana Santa, no sábado de aleluia e domingo de páscoa. A realização do carnaval fora de época nesse período em Esperantina foi o motivo de muitas divergências entre a Igreja Católica e os organizadores do evento. Atualmente a Igreja  e os organizadores chegaram a um acordo e a micareta continua a ser realizada em Esperantina. Agora existe a festa na avenida, enquanto a Igreja Católica celebra em paz a morte e ressureição de Jesus Cristo. Os protestantes em Esperantina também desenvolvem suas festividades nesse período.

Luta por direitos básicos

Se parte da cultura afro alcançou a glória nacional no Brasil, por outro lado os direitos dos descendentes de escravos continuam a serem desconsiderados. Essa população continua a receber os menores salários, além de possuirem o menor grau de escolaridade quando comparada à população branca e parda. Vemos então que o governo obrigou por Lei as universidades públicas e privadas do País a darem uma parcela de suas vagas em cursos para alunos negros. É uma atitude louvável por parte do governo, mas é triste quando se percebe que tanto brancos e pardos quanto negros têm potencial humano semelhantes. Percebe-se também que a grande maioria dos artistas que se destacam no Brasil divulgando a cultura afro são brancos. Existem coisas na vida e na natureza que são imutáveis, portanto de nada adianta tentar modificá-las. Não temos também o dever de aceitar as coisas que não concordamos, mas temos a obrigação de respeitá-las. Quando se age dessa maneira as coisas complicadas se tornam mais fáceis eo mundo pode então vivenciar a paz.

Não temos também a OBRIGAÇÃO de aceitarmos as coisas que não concordamos, mas temos o DEVER de respeitá-las.

Sobre o Colaborador:
Paulo Machado Paulo Machado é um esperantinense que mora em São Paulo e é um grande colaborador deste portal.

5 comentários:

  1. Esse seu artigo está perfeito, muito bom, Parabéns. Sempre acompanho suas materias no PORTALESP.

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  2. È muito bom saber coisas novas,essa história sobre micareta em Esperantina,não sabia mas agora estou sabendo.
    beijos
    navegante,Teresina

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  3. Dr. Marcos Carvalho,

    É muito bom saber que você lê e acompanha os artigos que publicamos aqui no PORTALESP.
    Pois é, que bom que gostou do artigo referente à origem e expansão do AXÉ MUSIC, bem como todo o início dos carnavais fora de época. Na verdade são coisas que nem todo mundo sabe. Coisas assim precisam ser mais bem divulgadas. Obrigado pela atenção !

    Um abraço.
    PAULO MACAHADO

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  4. Navegante em TERESINA,

    Pois é, como você ficou sabendo, as micaretas no Piauí tiveram início em Esperantina e parece que pouca gente sabe disso. Fico muito contente por ter tido a possibilidade de ter repassado a você e a muitos outros leitores um novo panorama sobre o AXÉ MUSIC e os carnavais fora de época. Continue nos prestigiando através do PORTALESP e o indique para seus amigos. Obrigado.

    Um abraço.
    PAULO MACHADO

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